Dados do Trabalho
TÍTULO
PERITONITE CRONICA SECUNDARIA A PERFURAÇAO INTESTINAL POR ESPINHA DE PEIXE SIMULANDO CARCINOMATOSE PERITONEAL
INTRODUÇÃO
A ingestão de corpos estranhos é frequentemente responsável por emergências médicas. Embora a perfuração do trato gastrointestinal por corpo estranho não seja incomum, a formação de peritonite crônica como resultado da migração de um corpo estranho é extremamente rara, tal qual um desfecho benigno para este acometimento. Nesses casos, os pacientes costumam apresentar sintomas atípicos que por vezes simulam outras afecções. Relatamos um caso de peritonite crônica secundária à perfuração intestinal por uma espinha de peixe simulando carcinomatose peritoneal.
RELATO DE CASO
C.O.P, 75 anos, sexo feminino, natural de Portugal e moradora da cidade do Rio de Janeiro, tratada cirurgicamente por cistoadenocarcinoma papilífero mucinoso bem diferenciado de apêndice cecal em 2007. Procura hospital público em outubro de 2018 queixando-se de dor abdominal difusa de forte intensidade com início há 2 semanas. Negava febre e quaisquer outros sintomas. À admissão apresentava-se hemodinamicamente estável, afebril, sem alterações de sinais vitais e com abdome distendido apresentando descompressão dolorosa e sinais de ascite. Na avaliação complementar apresentava leucocitose e elevação da PCR, além de ascite importante e formação cística multilobulada em pelve na TC. A paracentese evidenciou líquido ascítico amarelo turvo com crescimento de Citrobacter freundii e Escherichia coli, culminando na hipótese diagnóstica de peritonite secundária à pseudomixoma peritoneal devido à história pregressa da paciente. Sem melhora a despeito das medidas terapêuticas adotadas, optou-se pela realização de laparotomia exploradora que evidenciou carapaça de fibrina unindo alças do intestino delgado, além de peritônio liso com focos de substância mucinosa. Não havia, no entanto, sinais de carcinomatose peritoneal em parede anterior de abdome. No lavado peritoneal encontrou-se corpo estranho identificado como espinha de peixe. O estudo histopatológico do peritônio evidenciou processo inflamatório com presença de mucina sem células epiteliais, aventando a possibilidade da neoplasia retirada dez anos antes ser, na verdade, um cistoadenoma, entidade não causadora de pseudomixoma peritoneal.
DISCUSSÃO
Dentre os corpos estranhos acidentalmente ingeridos, a espinha de peixe é um dos mais comumente encontrados. Devido à dificuldade da visualização da espinha de peixe nos exames de imagem, o diagnóstico presuntivo de complicações decorrentes desta afecção torna-se um desafio quando o paciente não tem conhecimento da ingestão do mesmo, o que ocorre na maioria dos casos. Entre os fatores que predispõem a ingestão acidental, o uso de dentadura é a condição mais frequentemente associada devido ao prejuízo à sensibilidade no palato; a paciente em questão fazia uso desse tipo de órtese. Além disso, a semelhança clínica com outras condições mais comuns, como a hipótese de pseudomixoma peritoneal aventada no caso, torna o diagnóstico de peritonite crônica por corpo estranho ainda mais desafiador.
Área
INTESTINO DELGADO
Instituições
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - Brasil
Autores
Bruna Marques Freitas, Rivelino Trindade Azevedo, Thaís de Sousa Gonçalves, Thales Fraga Ferreira da Silva, Gustavo Scaramuzza dos Reis, José Carlos Perri Vidal Alvarez