Dados do Trabalho


TÍTULO

EXTERIORIZAÇÃO DE MATERIAL CIRÚRGICO EM LUZ ESOFAGEANA

INTRODUÇÃO

Independentemente da etiologia, uma perfuração esofágica é uma urgência cirúrgica. O vazamento do conteúdo esofágico e gástrico para o mediastino cria um processo inflamatório necrosante que pode levar a sepse, falência de múltiplos órgãos e morte.Mais da metade de todas as perfurações esofágicas são iatrogênicas e a maioria delas ocorre durante a endoscopia. Neste caso que relatamos, o esôfago foi perfurado após uma correção de pseudartrose da coluna cervical, representando um evento raro.
Apresentamos um caso de perfuração tardia com exteriorização de material cirúrgico em luz esofágica após correção de pseudartrose da coluna cervical e a forma como foi conduzido até seu desfecho.

RELATO DE CASO

Paciente A.Q.S., sexo masculino, 66 anos de idade, realizou tratamento cirúrgico em 2005 para correção de uma pseudartrose da coluna cervical (C3-C6). Em outubro de 2018 deu entrada no Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo, queixando-se de disfonia há 2 meses associada a disfagia para sólido há 1 mês, além de perda de peso não quantificada nos últimos meses.
Foi realizada uma Endoscopia Digestiva Alta que demonstrou parte do material cirúrgico da artrodese (placas e parafusos) dentro da luz esofageana, configurando uma lesão de 4 cm na parede posterior do esôfago. A equipe médica optou pela abordagem cirúrgica desta lesão em novembro do mesmo ano, sendo realizada uma esofagoplastia e uma gastrostomia, com a retirada do material em luz esofageana.
O pós-operatório seguiu sem intercorrências, com o paciente hemodinamicamente estável, sem uso de drogas vasoativas, sem sedação, eupneico em ar ambiente e com dieta enteral.
Após tentar conter episódio de vômito, o paciente realizou broncoaspiração de conteúdo gástrico e evoluiu com pneumonia e sepse.
Na madrugada do dia 06/12/2018 o paciente evoluiu com parada cardiorespiratória, realizado reanimação cardiopulmonar segundo ACLS com retorno à circulação espontânea. Durante a tarde paciente se manteve em ventilação mecânica sob sedoanalgesia, mantendo hipotensão e taquicardia mesmo na presença de noradrenalina em altos títulos, assim como vasopressina. Às 21:10 horas o paciente faleceu após parada PCR sem sucesso de reanimação de acordo com o ACLS.

DISCUSSÃO

Em levantamento de dados, verificamos que as perfurações esofágicas por exteriorização de materiais cirúrgicos são caracterizadas como extremamente raras, com taxas de incidência de 0,02-1,49% e de mortalidade de 12-20%. No entanto, apesar de incomum, a identificação do deslocamento da placa como possível causa da perfuração é feita de maneira consideravelmente rápida e segura nestes casos. Apesar de sua baixa incidência, foi possível fazer a escolha do tratamento adequado rapidamente devido ao quadro clínico característico e o auxílio de exames de imagem e, mesmo com a evolução do paciente a óbito, a esofagoplastia e a gastrostomia, com a retirada do material em luz esofageana mostrou-se como a melhor alternativa frente a outras possibilidades.

Área

ESÔFAGO

Instituições

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo - São Paulo - Brasil

Autores

Vítor Doria Ricardo, Jean Lucas Benatti, Juliana Lucena de Queiroz, Guilherme Henrique Freire Costa, Danilo Gagliardi, José Carlos Esteves Veiga, Celso de Castro Pochini, Ruy F Almeida