Dados do Trabalho


TÍTULO

FISTULA COLECISTOCUTANEA ESPONTANEA: UMA COMPLICAÇAO RARA DA COLECISTITE CRONICA

INTRODUÇÃO

A fístula colecistocutânea é uma complicação rara da colecistopatia calculosa crônica. Consiste em uma comunicação entre a vesícula biliar e a pele devido a um processo inflamatório crônico, normalmente secundário a litíase biliar. A ultrassonografia e a tomografia computadorizada são os métodos diagnósticos de escolha. O tratamento dependerá das condições clínicas do paciente. São observadas principalmente em mulheres entre a quinta e sétima década de vida, refletindo o aumento na incidência de litíase biliar e neoplasias de vesícula nesta faixa etária.

RELATO DE CASO

Sexo feminino, 85 anos, negra, obesa, hipertensa, procurou emergência com quadro de dor abdominal em hipocôndrio direito há 3 meses, queda do estado geral, náuseas e vômitos, e apresentava orifício em região subcostal direita com drenagem espontânea de secreção biliosa, associado a extenso abscesso local. Estava ictérica, desidratada e afebril. Sem sinais de irritação peritoneal. O laboratório de admissão apontava 18.400 leucócitos/µL (21% de bastonetes) e aumento de bilirrubinas (total=1,84; direta=1,04 mg/dL). A tomografia de abdome evidenciou espessamento da parede da vesícula biliar e comunicação desta com a parede abdominal adjacente, além de dois cálculos de aproximadamente 2,0 cm cada em tecido celular subcutâneo permeados por líquido. Observou-se também dilatação de vias biliares e presença de coledocolitíase distal. A paciente foi internada com antibioticoterapia venosa e submetida à exploração cirúrgica, com extração dos dois cálculos e drenagem de pus do subcutâneo e do espaço sub-hepático, bem como biópsia de fragmento da vesícula. Apresentou boa evolução pós-operatória, sendo submetida a seguir a colangiopancreatografia endoscópica retrógrada, com identificação de cálculo coledociano, não passível de extração devido ao seu tamanho. Optou-se por esfincterotomia e colocação de prótese biliar plástica. Recebeu alta em bom estado geral e assintomática 47 dias após a admissão. No momento, em acompanhamento ambulatorial. Encontra-se com cinco meses de operada, sem queixas, anictérica e com orifício de drenagem cicatrizado.
Histopatológico de fragmento de vesícula biliar: processo ulcerático agudo com tampão fibrino-leucocitário e pigmento de aspecto litiásico.

DISCUSSÃO

A fístula colecistocutânea foi descrita pela primeira vez em 1670 e nas últimas décadas, menos de cem casos foram relatados na literatura. Com métodos diagnósticos mais eficazes, antibioticoterapia de amplo espectro e abordagem cirúrgica precoce, o número de casos entrou em declínio. O tratamento depende da avaliação clínica de cada paciente. No presente caso, com o fato de a paciente ser idosa e apresentar condições clinicas não favoráveis, associado à coledocolitíase, optou-se por não realizar a colecistectomia. Em pacientes com menor risco cirúrgico, a colecistectomia deve ser tentada.

Área

VIAS BILIARES E PÂNCREAS

Instituições

Hospital Municipal Miguel Couto - Rio de Janeiro - Brasil

Autores

Rayza Noronha de Almeida Fernandes, Carolina Sant' Anna Tavares, Thales Penna Carvalho, Jaime Enrique Duran Bustamante, Gláucia Campos Resende, Carlos Henrique Cardoso Teixeira, Sara Wolosker, Fernando Antonio Parahyba de Andrade