Dados do Trabalho


TÍTULO

INTERCORRÊNCIA EM ABDOMINOPLASTIA EM PACIENTE TESTEMUNHA DE JEOVÁ

INTRODUÇÃO

A abdominoplastia é um procedimento cirúrgico plástico que visa melhorar a estética abdominal. Todavia, podem ocorrer complicações, como em qualquer outra cirurgia. A anemia aguda é um exemplo. Entretanto, seu manejo pode ser que seja diferenciado em pacientes Testemunhas de Jeová.

RELATO DE CASO

Paciente feminina, 28 anos, Testemunha de Jeová, com cicatriz inestética, fruto de uma cesariana complicada com infecção da ferida cirúrgica há 9 meses. Foi submetida a uma abdominoplastia, apresentando abaulamento abdominal e drenagem de 300mL de sangue no 1º dia de pós-operatório. Foi feita uma reintervenção com retirada de 1300mL de sangue. A dosagem intra-operatória demonstrou 19% de hematócrito e 6,8g/dL de hemoglobina. O tratamento diário realizado foi eritropoietina subcutânea 4000UI, complexo B intramuscular 1 ampola, noripurum 1 ampola diluída em 500mL de soro fisiológico 0,9% e repouso absoluto. A paciente ficou internada por 10 dias, com débito dos drenos de 250mL de secreção sero-sanguinolenta nos 3 primeiros dias, que foi decaindo e, no 7º dia, foi retirado com drenagem de menos de 50mL/24h. A paciente apresentou hematócrito de 29% no 30º dia e seguiu com boa cicatrização e sem intercorrências em todos os retornos.

DISCUSSÃO

A perda de mais de 1300mL de sangue provocou um quadro de anemia aguda pós-hemorrágica com dosagem de 19% de hematócrito e 6,8g/dL de hemoglobina. Todavia, o recomendado é de 36 a 46% de hematócrito e de 12 a 16g/dL de hemoglobina. Essa análise, associada à saturação e ao débito cardíaco, viabiliza a gravidade da anemia, uma vez que demonstra o quanto a oferta de oxigênio está prejudicada. Isso é explicado, pois a hipovolemia e a redução de hemoglobina geram uma diminuição da hematose, do armazenamento de oxigênio pelas hemácias, do transporte e da liberação do oxigênio para os tecidos, gerando, um quadro de hipóxia. Assim, com a perda de mais de 20% de sangue e presença de menos de 7g/dL de hemoglobina, a indicação médica seria de transfusão sanguínea por apresentar uma melhor resposta terapêutica. Entretanto, essa medida não é permitida por Testemunhas de Jeová.
Pacientes dessa religião não admitem qualquer procedimento que haja administração de sangue, de concentrados de hemácias, de leucócitos, de plasma e de plaquetas. Contudo, a ministração de albumina, imunoglobulinas, preparados para hemofílicos, preparados de fibrina, eritropoietina, transplante de órgãos, autotransfusão intra-operatória em circuito fechado, circulação extracorpórea, hemodiálise e hemodiluição, todos sem armazenamento de sangue, são decididas por cada fiel. Portanto, nos casos em que há necessidade de transfusão, o médico fica entre a Constituição Federal que dá o direito à religião ao paciente e o Código de Ética Médica que afirma o seu dever de salvar vidas.
Diante da recusa da paciente em receber sangue e da sua assinatura da declaração se responsabilizando pelos possíveis riscos, o médico seguiu com o tratamento alternativo citado.

Área

CIRURGIA PLÁSTICA (Inclusive neoplasias malignas de pele)

Instituições

Universidade Católica de Brasília (UCB) - Distrito Federal - Brasil

Autores

Débora Maria Neres de Almeida Souza, Letícia Figueiredo Bezerra, Laryssa Fernandes Rocha, Natália Francis Gonçalves Farinha, Rayssa Silva de Oliveira, Larissa Figueiredo Bezerra, Renato Sérgio de Medeiros Souza