Dados do Trabalho
TÍTULO
COLANGIOPATIA POR HIV MIMETIZANDO COLANGIOCARCINOMA
INTRODUÇÃO
A colangiopatia relacionada ao HIV é uma entidade de amplo espectro clínico. Apresenta-se predominantemente em pacientes com CD4 inferior a 100 cells/microL, e desde o advento da terapia antirretroviral, sua incidência vem diminuindo, e atualmente é desconhecida. A etiopatologia é variável; predominam as causas infecciosas, notadamente Criptosporidium parvuum, mas em 20-40% dos casos, nenhum patógeno é isolado. As lesões também podem se dever ao próprio efeito citotóxico do HIV e aos paraefeitos das drogas antirretrovirais. Raramente ocorre como manifestação inicial da síndrome de imunodeficiência.
RELATO DE CASO
Paciente branco do sexo masculino, 44 anos, interna via emergência do Hospital Nossa Senhora da Conceição devido a Icterícia, aumento de volume abdominal, colúria e acolia. Paciente ex-tabagista, ex-etilista, ex-usuário de crack. História prévia de hepatite B há cerca de 15 anos, sem acompanhamento regular. Realizados exames laboratoriais, compatíveis com quadro colestático e sorologias, estas confirmando a cura da hepatite B e com positividade para o vírus da imunodeficiência humana (Paciente sem diagnóstico prévio). Investigação posterior demonstrou contagem de células CD4+ de 87 células/microL. Ultrassonografia externa evidenciava dilatação de via biliar associada a calculo obstrutivo em infundÍbulo.
Foi procedida investigação com tomografia de abdome e colangiorresonância que demonstrava dilatação de vias biliares intra-hepáticas com redução abrupta do calibre das mesmas no nível do hilo hepático, onde se identificava lesão hipodensa com cerca de 1,4cm, sugerindo colangiocarcinoma. Associado, havia espessamento leve de ducto hepático comum, distal a lesão. A lesão comprometia ducto hepático direito Pela localização da lesão, não foi possível realizar biópsia. Sorologias para criptococose negativas e para citomegalovírus positivas (IgG e IgM).
Iniciou terapia antirretroviral com lamivudina, tenofovir e dolutegravir, recebendo alta para manter acompanhamento ambulatorial com cirurgia oncológica, medicina interna e infectologia. Apresentou boa aceitação da terapia antirretroviral e evoluiu com melhora do quadro de colestase. Em colangiorressonancia realizada um mês após a alta, houve importante redução da área de espessamento parietal, permanecendo tênue redução do calibre e leve ectasia das vias biliares à montante. . Paciente não voltou a apresentar novos sintomas de colestase.
DISCUSSÃO
O acometimento da via biliar pelo HIV não é incomum, mas em raras ocasiões é a manifestação inicial da AIDS, impondo-se como diagnóstico diferencial em pacientes soropositivos. Inicialmente foi considerada a possibilidade de tratar-se de Colangiocarcinoma, que implicaria em uma conduta mais invasiva e em prognóstico reservado.
Ainda que tal situação não seja de toda anômala, há uma escassez de casos semelhantes relatados na literatura, demonstrando assim, a importância do presente trabalho.
Área
VIAS BILIARES E PÂNCREAS
Instituições
Grupo Hospitalar Conceicao - Rio Grande do Sul - Brasil
Autores
CELINA PEREIRA HALLAL, FRANCINE MATTIELLO DE BRITO, CELSO PAGANELLA JR, ANA MARIA STAPASSOLA VARGAS GARCIA