Dados do Trabalho
TÍTULO
PERITONITE ESCLEROSANTE ENCAPSULANTE SECUNDARIA A TUBERCULOSE PERITONEAL - UM RARO RELATO DE CASO
INTRODUÇÃO
A Peritonite Esclerosante Encapsulante (PEE) é uma rara doença inflamatória crônica de etiologia desconhecida. Acredita-se que seja resultado de uma peritonite subclínica recorrente, que evolui progressivamente com fibrose e formação de membrana acinzentada que envolve principalmente o intestino delgado, causando repetidos quadros de obstrução intestinal. Pode ser primária ou secundária a condições que causam inflamação peritoneal com proliferação fibroblástica, como diálise e tuberculose peritoneais. O quadro é de difícil diagnóstico clínico, pois além de sintomas iniciais inespecíficos, a doença é rara e comumente não faz parte dos diagnósticos diferenciais de obstrução intestinal. Desta maneira, a maioria dos diagnósticos são no intra-operatório, quando a doença se apresenta como quadro agudo obstrutivo.
RELATO DE CASO
Masculino, 22 anos, encaminhado de serviço penitenciário em regime fechado com distensão abdominal progressiva e parada de eliminação de flatos e fezes há 15 dias. Negava outros sintomas e ingesta de corpo estranho, comorbidades e cirurgias abdominais. Radiografia abdominal mostrou moderada distensão de alças, sendo optado inicialmente por tratamento conservador com passagem de sonda nasogástrica e realização de fleet enema, sem alívio. A TC de abdome contrastada evidenciou presença de coleção de paredes espessadas em linha média da pelve e em região subdiafragmática, com colabamento de alças de delgado, sendo indicada abordagem cirúrgica. Na laparotomia exploradora encontrou-se significativa quantidade de líquido citrino e fibrina e grande bloqueio envolvendo todo o conteúdo intra-abdominal, sem plano seguro de clivagem. Foi realizada cultura do líquido, que se mostrou negativa, e coleta de fragmento peritoneal para biópsia, que demonstrou peritonite granulomatosa, indicativa de tuberculose peritoneal.
DISCUSSÃO
O diagnóstico de PEE, apesar de difícil, é facilitado pela história clínica, presença de fatores predisponentes, auxílio radiológico e alta suspeita médica. O paciente em questão veio encaminhado de serviço penitenciário, local de alta susceptibilidade a doenças infecciosas, principalmente por compartilhamento de agulhas, saúde precária, superpopulação e comportamentos de alto risco. Em termos radiológicos, a TC contrastada é o melhor método diagnóstico, demonstrando acúmulo central de alças envolvidas por densa membrana. Pacientes com sintomas leves podem ser tratados de maneira conservadora. Aqueles com sintomas graves ou refratários devem ser operados, com excisão da membrana fibrótica e lise das aderências, e em casos de sofrimento de alça, ressecção com anastomose primária. A PEE, apesar de rara, é incialmente uma condição benigna e de bom prognóstico. Por isso, deve ser sempre considerada em diagnósticos diferenciais de quadros obstrutivos que cursam com história típica e presença de fatores predisponentes conhecidos, principalmente a diálise peritoneal e suspeita de tuberculose peritoneal.
Área
URGÊNCIAS NÃO TRAUMÁTICAS
Instituições
Hospital Regional da Ceilância - Distrito Federal - Brasil
Autores
Bruna Morena Messias de Lima Dias, Isabela Santos Paiva Laender Moura, Pamella Renata Marinho Miranda, Francisca Joelma Rodrigues de Lima, Pablo Borges Leal, Alba Almeida Rodrigues de Godoy, Bruna Marra Silva