Dados do Trabalho
TÍTULO
Lesão cervical penetrante: caso conduzido sem exploração cirúrgica
INTRODUÇÃO
O ferimento penetrante de pescoço é definido por lesões que atravessam o músculo platisma. Pode ser causado por arma de fogo (FAF), arma branca (FAB) ou outros artefatos perfurantes. A incidência de FAB no Brasil é de 46% e na região cervical possui incidência de 6,7%, destaca-se por sua alta complexidade e elevada morbidade, conferindo grande relevância no atendimento nos serviços de emergência. O manejo desses pacientes depende do estado hemodinâmico e do nível anatômico da lesão na região cervical, sendo fundamental a manutenção de uma boa via aérea, podendo esta ser realizada por traqueostomia imediata, a qual é indicada nos casos de lesões cervicofaciais e nas intubações difíceis após o fracasso das técnicas alternativas.
RELATO DE CASO
MEV, 22 anos, masculino, deu entrada no Hospital das Clinicas da Universidade Federal do Triangulo Mineiro (HC-UFTM), após sofrer lesão por arma branca em região cervical (zona II). Apresentou-se estável hemodinamicamente, com edema e enfisema subcutâneo na região cervical. Realizou-se uma Angiotomografia Computadorizada de pescoço que descartou dano vascular e sugeriu lesão de traqueia e esôfago. Optou-se assim por encaminha-lo ao bloco cirúrgico onde realizou-se traqueostomia e em seguida Endoscopia Digestiva Alta, a qual confirmou lesão na mucosa esofágica em região de hipofaringe e possibilitou via de alimentação por sonda nasoenteral (SNE), permitindo tratamento conservador. Paciente permaneceu internado por 7 dias com dieta enteral exclusiva e cânula de traqueostomia plástica. Foi submetido a um deglutograma antes da alta, não havendo extravasamento de contraste, foi liberado dieta via oral a qual teve boa aceitação. Assim, houve a troca da cânula de traqueostomia plástica para a cânula metálica nº 6 e a alta foi concedida.
DISCUSSÃO
Os ferimentos penetrantes cervicais apresentam alta complexidade em decorrência da presença de uma vasta quantidade de estruturas alojadas em um pequeno espaço, o que leva a elevadas taxas de morbidade além de ser determinante no prognóstico do paciente. A abordagem clínica é de urgência e o tratamento irá depender dos exames realizados e da avaliação hemodinâmica, física e respiratória do paciente. No centros de trauma é muito comum a realização de angiotomografia computadorizada, sendo descrita por Nars, et al 2015 como um dos exames mais rápidos a serem feitos, com alta resolução e sensibilidade, além de não ser invasivo. É recomendada assim, para avaliação de traumas na região do pescoço, uma opção viável e que descarta procedimento cirúrgicos exploratórios. Epstein et al 2012 descreveu um paciente que após sofrer lesão esofágica por FAF, evoluiu com necessidade de traqueostomia e passagem de SNE, em que a traqueostomia foi escolhida como medida protetiva de via aérea e a SNE para suporte nutricional e controle dos mediadores da inflamação. Dessa forma, a traqueostomia vem sendo apontada como melhor escolha em casos de ferimentos perfurantes cervicais, apresentando bons parâmetros de evolução.
Área
CIRURGIA CABEÇA E PESCOÇO
Instituições
UFTM - Minas Gerais - Brasil
Autores
Jussara da Cruz Jardim, Maria Carolina Borsato Belo, Bruna Silveira Toledo Barbosa, Aalec Rinhel, Mateus Nascimento Barbosa Barros, Túlio Luiz Marra Négri, Beatriz Silva Inácio, Carlos Alfredo Salci Queiroz