Dados do Trabalho
TÍTULO
Má rotação intestinal: um relato da sala de emergência
INTRODUÇÃO
A má rotação intestinal é uma anomalia congênita causada por rotação incompleta ou não rotação do intestino no eixo da artéria mesentérica superior durante o desenvolvimento embriológico. Geralmente apresenta-se nos primeiros meses de vida, entretanto, eventualmente ocorre em idades mais avançadas, fato que, devido a sua incidência de 0,2%, dificulta o diagnóstico e associa-se ao aumento de morbidade, uma vez que cerca de 15% dos pacientes adultos permanecem assintomáticos.
RELATO DE CASO
Paciente masculino, 48 anos, chega à Emergência de hospital referência em trauma, com náuseas e vômitos, associados a dor em região epigástrica, de piora pós-prandial, com duração de três dias. Informa constipação e redução da diurese - história de quadro similar há dois anos. Ao exame físico, abdome normotenso, sem sinais de defesa, referindo dor em região epigástrica, sinais vitais estáveis. Coletaram-se laboratoriais, que evidenciaram aumento de creatinina e amilase. Realizada Tomografia Computadorizada (TC) de abdome que mostrou moderada distensão gástrica e duodenal, observando-se "twist" mesentérico na região epi-mesogástrica, sem demais alterações. Mantido com hidratação por quadro de insuficiência renal e suboclusão intestinal, com melhora dos sintomas após descompressão gástrica. Realizada laparotomia exploratória (LE), identificação de má rotação intestinal congênita. Foi desfeita a torção e efetuado o reposicionamento intestinal, com delgado mantido em hemiabdome à direita e cólon à esquerda. Paciente evoluiu com melhora significativa, diurese e evacuações espontâneas, afebril, sem alterações laboratoriais. A ferida operatória manteve-se com aspecto limpo, sem sangramentos. Recebeu alta no sexto dia pós-operatório, em bom estado geral. Paciente progrediu com íleo adinâmico, necessitando de nova internação para correção, com uso de pró-cinéticos e descompressão gástrica, apresentando melhora do quadro
DISCUSSÃO
A maioria dos adultos com má-rotação apresenta sintomas insidiosos, comumente durante período pós prandial, como vômitos intermitentes, dor abdominal, perda ponderal e diarreia. Casos agudos ocorrem em apenas 15% dos pacientes, evoluindo com hematêmese e instabilidade hemodinâmica. Apesar do Raio X contrastado com bário ser o exame padrão-ouro, a TC vem sendo cada vez mais utilizada, podendo evidenciar os cursos anormais intestinais, além do sinal do “redemoinho”. O tratamento é essencialmente cirúrgico, diferindo apenas acerca do caráter de urgência. No quadro agudo, é necessário prosseguir com LE imediata, a fim de evitar complicações. Já no crônico, opta-se por procedimento eletivo. Devido à dificuldade diagnóstica, já que esse quadro não se encontra entre as principais hipóteses do cirurgião, apresenta taxa de morbidade de 60%. Logo, é fundamental o conhecimento dessa patologia em quadros de dor abdominal arrastada sem explicação plausível, em razão de evitar complicações como isquemia intestinal e síndrome do intestino curto.
Área
TRAUMA
Instituições
HPS - Rio Grande do Sul - Brasil
Autores
Giullia Garibaldi Bertoncello, Yasmin Cardenas Soares, Gabriela Travi Garcez, Amanda Morganti Gros, Henrique Borges Ribeiro De Oliveira, Eduardo Zanotta Rodrigues, Carlos Eduardo Bastian Da Cunha, Luís Fernando Strauch De Mello