Dados do Trabalho


TÍTULO

SEGREDOS CADEADOS DE UM MEDIASTINO

INTRODUÇÃO

O câncer de pulmão é responsável por 13% de todos os casos de câncer no mundo, sendo a alta taxa de incidência devida, majoritariamente, ao uso disseminado do tabaco - principal fator de risco. Dos tumores originados do epitélio pulmonar, 15% são de células pequenas e 85% de células não pequenas, sendo este último subdividido em adenocarcinoma, carcinoma epidermoide e carcinoma de grandes células. Os sintomas se devem ao crescimento e disseminação da lesão, sendo normalmente caracterizados por tosse, dispneia e hemoptise, contudo parte dos pacientes pode apresentar-se assintomática. O diagnóstico é sugerido por exames de imagem e confirmado por análise citológica de amostra da lesão, sendo a biópsia o método de maior acurácia.

RELATO DE CASO

Paciente feminino, 77 anos, portadora de doença pulmonar obstrutiva crônica e transtorno bipolar com risco de suicídio. Vem ao hospital, encaminhada de instituição de internação psiquiátrica, com queixa de disfagia após ingesta de corpo estranho (cadeado) e fragmentos de garfo plástico há dois dias, com suspeita de perfuração esofágica. Solicitada tomografia computadorizada que evidenciou coleção irregular periesofágica, medindo 7,2 x 4,4 x 3,9 cm, com impregnação periférica pelo meio de contraste. Paciente evoluiu com taquipneia, esforço ventilatório e diminuição global da ausculta pulmonar com sibilos expiratórios. Submetida a toracotomia póstero-lateral direita por suspeita de perfuração de esôfago torácico com abscesso mediastinal. No transoperatório, evidencia-se ausência de perfuração esofágica ou coleção inflamatória, porém identifica-se volumosa massa expansiva subcarinal, firmemente aderida à pleura visceral com comprometimento linfonodal e lesões nodulares periféricas em lobo inferior esquerdo sugestivas de metástases. Realizada biópsia das lesões para elucidação diagnóstica, pleurodese abrasiva e drenagem torácica esquerda. Apresentou boa evolução pós-operatória, com melhora clínica progressiva. Resultado do anatomopatológico revela carcinoma de células não pequenas. A família opta pela não realização de medidas invasivas, solicitando apenas cuidados paliativos.

DISCUSSÃO

O carcinoma de células não pequenas é um tumor de caráter agressivo com grande invasão de estruturas torácicas e alto grau de metastização. Seu diagnóstico normalmente é tardio, sendo fator de mau prognóstico. O tratamento depende do estadiamento do tumor, que segue o padrão TNM, e a ressecção cirúrgica é o método de escolha sempre que possível, sendo a lobectomia o procedimento mais indicado. Os casos que apresentam como opção o tratamento cirúrgico são tumores não metastáticos com acometimento nodal apenas ipsilateral, porém o procedimento deve ficar reservado a pacientes com função pulmonar adequada e sem comorbidades graves. A ressecção deixa de ser realizada quando há acometimento nodal contralateral ou metastização - casos em que a quimiorradioterapia apresenta-se como tratamento razoável e a imunoterapia começa a despontar como uma nova solução.

Área

CIRURGIA TORÁCICA

Instituições

Hospital de Pronto Socorro - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

Luísa Pretto Favaretto, Amanda Morganti Gros, Eduardo Beck Paglioli Neto, Gustavo Lazaroto Swarowsky, Mariana Kumaira da Fonseca, Eduardo Zanotta Rodrigues, Mariana Sandrin Toni, Omero Pereira da Costa Filho