TÍTULO

DIVERTICULOSE DE INTESTINO DELGADO: UM ACHADO INCIDENTAL EM QUADRO DE ABDÔMEN OBSTRUTIVO

INTRODUÇÃO

A doença diverticular em intestino delgado é uma patologia rara, acometendo principalmente idosos. O quadro clínico é inespecífico, fato que dificulta e retarda o diagnóstico. A tomografia computadorizada (TC) de abdome com contraste é muito valiosa em sua avaliação e definição, mas por vezes o diagnóstico é feito no intraoperatório.

RELATO DE CASO

Paciente do sexo feminino, 49 anos, buscou o pronto-atendimento queixando-se de dor epigástrica, de forte intensidade, associada a náuseas e vômitos. Havia relato de apendicectomia e ooforectomia prévias. Ao exame, apresentava estado geral regular, fácies de dor, abdome semigloboso, doloroso a palpação em região epigástrica e sem sinais de irritação peritoneal. À radiografia do abdome, observou-se importante distensão colônica com níveis hidroaéreos. Nos dias seguintes, evoluiu com aumento da intensidade da dor e parada de eliminação de fezes e flatos. O abdome tornou-se distendido, hipertimpânico à percussão e doloroso à descompressão brusca difusamente, com ruídos hidroaéreos ausentes, solicitando-se a avaliação do serviço de Cirurgia Geral. Foi submetida a TC de abdome com contraste para investigação etiológica do quadro, que evidenciou distensão de alças jejunais, presença de nível hidroaéreo e ponto de transição abrupta de seu calibre, com afilamento, sugerindo a possibilidade de obstrução intestinal por aderências. Indicou-se a laparotomia exploradora, com achado de quantidade moderada de líquido seroso livre em cavidade, aderências presentes a cerca de 10 cm da válvula ileocecal, tornando-a incompetente, além da presença de múltiplos divertículos em jejuno proximal sem sinais flogísticos. Realizou-se lise de aderências após inventário da cavidade, não sendo evidenciado outro fator obstrutivo. Paciente evoluiu de forma satisfatória, tendo alta no terceiro dia pós-operatório, assintomática e em condições de seguimento ambulatorial.

DISCUSSÃO

Ao contrário da doença diverticular dos cólons, os divertículos de intestino delgado são muito mais raros, representando cerca de 0,3 a 4,5% dos casos. Quando presentes, distribuem-se da seguinte maneira: 60-70% no duodeno, 20-25% no jejuno e 5-10% no íleo. As possíveis complicações agudas dessa condição incluem diverticulite, perfuração, pseudo-obstrução intestinal e hemorragia, que são raras e acometem cerca de 6-10% dos pacientes, podendo haver diverticulite crônica com formação de diverticulito. O tratamento inclui desde medidas clínicas conservadoras até laparotomia de urgência. O diagnóstico diferencial da diverticulite de intestino delgado deve ser feito com apendicite aguda, pancreatite aguda, doença ulcerosa péptica, colites, doença inflamatória intestinal, colecistite aguda, enfermidades ovarianas, gravidez ectópica, além de outras causas de abdome agudo. A diverticulose do intestino delgado é muitas vezes assintomática e pode ser encontrada como achados incidentais em exames de imagem, cirurgias ou autópsias.