TÍTULO

OBSTRUÇAO INTESTINAL E NECROSE POR CATETER DISTAL DE DISPOSITIVO VENTRICULOPERITONEAL: UM RELATO DE CASO

INTRODUÇÃO

A obstrução intestinal ocorre quando o fluxo normal de conteúdo intraluminal é interrompido. A obstrução pode ser funcional, devido à fisiologia intestinal anormal, ou devido a uma obstrução mecânica, que pode ser aguda ou crônica. A cirurgia de derivação ventriculoperitoneal (DVP) é a técnica mais utilizada para diminuir a hipertensão intracraniana ocasionada pelo acúmulo de líquido cefalorraquidiano (LCR), também conhecido como hidrocefalia. Revisões periódicas do dispositivo de shunt são necessárias a fim evitar possíveis complicações.

RELATO DE CASO

Paciente, sexo masculino, 50 anos, submetido a derivação ventrículo-peritoneal há aproximadamente 28 anos, deu entrada no serviço de urgência com um quadro de dor abdominal difusa, distensão abdominal e êmese incoercível. O paciente relatou que desde a implantação da DVP, não deu seguimento as consultas com o neurologista, estando sem acompanhamento neurológico há quase três (03) décadas. Realizada tomografia computadorizada com contraste de abdome, constatou-se um quadro de obstrução intestinal compreendendo hipocôndrio direito e região mesogástrica. Inicialmente, após o diagnóstico, tentou-se acesso a cavidade abdominal por videolaparaoscopia, mas devido a franca obstrução intestinal e a impossibilidade de insuflação da cavidade com CO2, foi necessária conversão, realizando-se uma laparotomia exploradora. Durante o procedimento, foi possível identificar topografia jejunal do quadro obstrutivo, que estava aderida a porção distal do cateter intraperitoneal da DVP previa. Realizou-se enterectomia de aproximadamente 60 cm do jejuno e íleo, sendo feita, em seguida, anastomose término-terminal. No pós-cirúrgico foi prescrita dieta oral líquida e antibioticoterpia endovenosa devido ao quadro séptico. Após 10 dias o paciente evoluiu sem intercorrências, recebendo alta.

DISCUSSÃO

A obstrução do intestino delgado causada por aderências e inflamação ao redor do cateter de derivação ventrículoperitonial é uma complicação extremamente incomum e grave, que pode exigir procedimentos invasivos como a laparotomia e a ressecção de porções do intestino para sua resolução, além dos riscos inerentes ao quadro obstrutivo, como necrose tecidual e peritonite. Mesmo sendo uma condição rara e que demanda de alto grau de suspeição, é importante que, nos pacientes portadores de shunts ventrículoperitoneais com clínica de abdome agudo, esta possibilidade seja levada em consideração como diagnóstico diferencial.