Dados do Trabalho


TÍTULO

AUTO CASTRAÇÃO COM INTENÇÃO DE BLOQUEIO DE TESTOSTERONA: UM RELATO DE CASO

INTRODUÇÃO

A automutilação é caracterizada por qualquer lesão intencional direta a tecido corporal sem intenção suicida. A auto mutilação genital é um evento raro e abrange desde pequenos cortes na pele até casos mais extremos com amputação do pênis ou castração testicular. É de suma importância a avaliação psiquiátrica do paciente, e complicações são comuns na abordagem, recuperação e reabilitação do paciente.

RELATO DE CASO

Paciente, feminino transgênero, 36 anos, deu entrada em PS de Cirurgia Geral de um hospital regional em Brasília por conta própria, deambulando, com história de realização de auto-orquiectomia bilateral há 5 horas, com intenção de bloqueio de testosterona, procedimento este realizado de forma caseira, com anestésico local, navalha, agulha e linha de costura. Ao exame físico, edema em região de bolsa testicular, com síntese a direita com pontos de sutura e mínimo sangramento entre os pontos. Após avaliação inicial, foi encaminhado para urologia, internado e indicada exploração cirúrgica de urgência. No inventário cirúrgico, foi evidenciada moderada quantidade de coágulos e os dois testículos com perda de cerca de 50% dos seus parênquimas, com secção do ducto deferente. Realizada a evacuação dos coágulos, desbridamento e síntese com aproximação das túnicas albugíneas e drenagem das bolsas testiculares com saída em contra abertura e fechamento da pele. Paciente recebeu alta após 7 dias de internação, com sintomáticos e retorno ambulatorial para revisão de cirurgia.

DISCUSSÃO

A auto mutilação genital na literatura é abordada principalmente relacionada a alguma doença psiquiátrica prévia diagnosticada, sendo poucos os relatos em pacientes assintomáticos. O caso apresentado refere um paciente sem histórico de uso de drogas, deambulante, orientado e consciente de todo o processo da auto-orquiectomia caseira, o que o torna ímpar dentro dos casos de automutilação genital registrados. Devido aos altos riscos de infecção em um procedimento tão invasivo realizado em ambiente inadequado, além das graves consequências à saúde de um indivíduo, é necessário que o atendimento ao paciente vítima de automutilação genital seja rápido e colaborativo, para identificar sangramento importante e reduzir tanto os riscos de infecção quanto o tempo de internação e inabilidade, permitindo um retorno mais rápido à vida normal. A abordagem cirúrgica e o tratamento com antibióticos profiláticos devem reduzir significativamente o risco de infecção e de complicações por hemorragia. A orquiectomia bilateral acarreta na inibição de testosterona, que tem como consequências iniciais a queda da libido, a dificuldade de ereção e a infertilidade. A longo prazo podem ser observados sintomas como fadiga, osteoporose, ondas de calor e depressão. Esse caso demonstra um tratamento rápido para controle de um evento traumático incomum e cheio de possíveis complicações.

Área

UROLOGIA

Instituições

Universidade Católica de Brasília - Distrito Federal - Brasil

Autores

Yasmin Abreu Soares de Souza Pimentel, Daniel Gontijo Sousa Silva, Renato Moreira Souto, João Paulo Majella de Godoy Moraes, Gustavo Alves Araújo Ferreira, Fernanda Maria Afonso Ferreira Madeira, Jessica Barbosa Oliveira