Dados do Trabalho


TÍTULO

HEMIPELVECTOMIA TRAUMATICA COMPLETA - 2º CASO COM SOBREVIDA NO HOSPITAL UNIVERSITARIO DE SANTA MARIA

INTRODUÇÃO

Define-se hemipelvectomia traumática como uma lesão que causa instabilidade óssea ou ligamentar com ruptura do feixe neurovascular pélvico, dividindo-se entre lesão completa (quando as estruturas articulares e ligamentares da pelve são completamente destruídas) ou incompleta (quando partes de tecido mole ou articulação mantém o membro preso ao corpo).
Esse tipo de lesão é incomum e tem alta mortalidade, por isso não há protocolos prontos para orientar a ação no momento do trauma. Portanto, justifica-se o relato deste caso, que se trata de uma lesão com avulsão completa do membro inferior durante um acidente carro-moto, levantando as variáveis que podem ser replicadas em casos futuros para obtenção do melhor desfecho possível. Descreve-se a seguir o 2º caso de hemipelvectomia traumática completa com sobrevida do HUSM.

RELATO DE CASO

M.S, 20 anos, fem. - Trauma de motocicleta atingida por caminhonete. Foi encontrada consciente na cena já sem o membro inferior esquerdo. À chegada no HUSM, foi evidenciada avulsão completa do membro, estando ausentes inclusive o púbis e ilíaco à esquerda e boa parte da musculatura do assoalho pélvico, além de apresentar luxação de quadril à direita e luxação da clavícula esquerda. Não havia sangramento ativo do ferimento devido ao espasmo dos vasos ilíacos.
Ainda na sala de emergência foi iniciada reposição volêmica agressiva e infusão de concentrado de hemácias. No bloco cirúrgico, foi feita ligadura da artéria ilíaca externa e ramos seccionados da ilíaca interna, sutura da perfuração peritoneal, remoção de tecidos esquêmicos e curativo com compressas. O trato urinário manteve-se íntegro, apesar da exposição do ureter esquerdo. Pela laceração anal e destruição do assoalho pélvico, foi confeccionada transversostomia em alça e feita lavagem exaustiva do ferimento com soro fisiológico.
Pós procedimento, foi encaminhada diretamente à UTI. Ao longo da internação, foram realizados curativos a vácuo na área cruenta, com melhora progressiva do ferimento até o estabelecimento de tecido de granulação e ausência de infecção grosseira. Teve nova intervenção para rotação de retalho fasciocutâneo do flanco esquerdo para a região pélvica e enxerto de pele parcial da coxa direita para a cobertura do local de doação do retalho.
Recebeu alta após 75 dias com completa cicatrização do local da amputação.

DISCUSSÃO

Fica clara a importância do cuidado pré-hospitalar e do setor de emergência cirúrgica do HUSM para a estabilização inicial da paciente, assim como o acompanhamento em UTI ao longo de todo o período da internação.
Até 2015, apenas 79 casos de hemipelvectomia traumática (completa ou incompleta) com sobreviventes haviam sido relatados mundialmente, o que demonstra não só a raridade, mas também a gravidade desse tipo de lesão. Em sua grande maioria, aconteceram em acidentes automobilísticos envolvendo motocicletas e têm em comum a disponibilidade de transporte rápido, suporte de centro terciário, reposição volêmica agressiva e intervenção cirúrgica precoce.

Área

TRAUMA

Instituições

HUSM - Rio Grande do Sul - Brasil

Autores

Pedro Guido Sartori, Gabriela Pereira de Moura, Mateus Alessio Pereira, Patrizzia Calegaro Palma, Betina Vescovi, José Antonio Razia, Franciele Pereira Madeira, Leonardo da Silveira